Paulo Izael
Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo.
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DESMATERIALIZAÇÃO


Entorpecido pela ilusão do vício,
Houve um tempo em que eu não vivia;
Debatia-me com meus fantasmas,
Compulsivamente me perdia.
Não percebia um palmo à minha volta.
Por capricho ou teimosia,
A cada manhã meu fígado renascia.
Desprovido de qualquer ânimo,
Em sofreguidão, a cada segundo eu desvivia,
A vida parecia impraticável, desprezível;
Meus passos eram lentos e sinuosos,
Sempre direcionados para o abismo.
Eu não desejava a solidão assombrosa.
A escuridão projetava em mim,
Uma sucessão de temeridades.
Em cada canto um dragão me espreitava.
Eu recuava a cada desafio.
Tentava odiar ainda mais o mundo.
Era uma fuga para não me apresentar.
Tudo acontecia desgovernado,
Eu espiava a tudo com desdenho,
Sonhando com um providencial milagre,
Capaz de aplacar as maledicências
Que teimavam em roubar minha aura.
Nada acontecia, tudo desmoronava.
O lamaçal da incredulidade castigava.
Meu passado diluído em calúnias...
E o reverso da medalha machucava,
Estava sendo difícil resgatar a dignidade...
Tudo dormia em transe infindo e alucinado.
A cada novo dia, o ceticismo se agigantava,
Cheguei a duvidar do meu próprio reflexo.
Olhei para mim enxergando um estranho.
Sabia que cálculo errado não tem soma,
E o resultado é sempre negativo;
Pois somente o firmamento é forte.
Mas ainda assim faltam-lhe as estrelas.
Ninguém é supremo e imbatível,
Nada é absoluto e duradouro.
A vida não prega surpresas indesejáveis,
Nós a mudamos freqüentemente.
Mergulhei na atrofia utópica da trajetória...
Em transe, enterrei-me ainda em vida,
Partilhando do covil devassador
Que cerca a mente no desalento final.
Envolvido na mortalha da fraqueza,
Preconizei a derrocada com alarde.
A insanidade imperou com veemência,
Aliada à eterna e sonhada degeneração,
Mordi um “punk” conhecido por Drácula;
Ateei fogo num masoquista por nome lúcifer
E raspei o ridículo bigode dum alemão.
Minha matéria ardia em labaredas.
Amparado no silencioso ato fúnebre,
Vi, a desmaterialização da massa obesa,
Fotografei o exato momento da dor,
Revelei o pavoroso quadro das trevas.
O filme da vida estava depauperado, em bolor!




Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 15/11/2005
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