Paulo Izael
Escrevo o que sinto, mas não vivo o que escrevo.
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ÚLTIMO RESPIRO!



Asfixiado por persuasões coercitivas que zuniam,
Eu, calado, enxugava prantos em noites frias.
Vivia a remoer sentimentos de um passado distante.
Não suportava sua repentina ausência.
Naquele tempo meu mundo era escuridão absoluta.
Cético quanto à vida, atirava-me ao lamaçal do vício.
A todo instante meu sonho em tê-la, era desfeito.
Sempre estava exposto ao desamor e não admitia.
Anos perdidos em tantas palavras escritas e ignoradas.
Tolas lembranças retratadas em míseras frases feitas,
Desprovidas da verdadeira sensatez que rege o amor.
Sua repugnância era explicita em todos os sentidos.
Faltava-me o brilho do olhar, do teu olhar.
Andei por ai, desandei, sempre a te procurar.
Qual insana busca sempre culminava em absoluto tédio.
Sofria agonizante num último respiro horripilante.
Quando sentia que poderia abrandar a dor e esquecê-la,
Sofria e respirava uma solitária lágrima solta no ar.
Em todas as manhãs, eu contava com teu vulto,
Para clarear os meus inseguros e obscuros dias.
Felizmente fiz-me forte frente ao descaminho,
Descobri-me alforriado pela felicidade de existir.
Aquela paixão doentia perdeu-se na poeira do tempo.
Desencantei-me ao saber-me tão decadente,
Dependente de utópicos pesadelos que evocavam o passado.
Foi-se a ternura do amor imaginário e masoquista.
O brilho do seu poder foi ofuscado pela indiferença.
Finalmente a razão imperou frente ao descaso.
Imbuído em  readquirir a razão de minha existência,
Esqueci-me da autofagia indecorosa e respirei a vida.
Acordei feliz e beijei o manto azul do dia e fui retribuído.
Aspirei à aura da felicidade e vi-me iluminado pela bondade.
Ouvi-me a sorrir abismado, lá fora a vida acontecia.
Cansei de vaguear por mundos sombrios e enojantes,
Suplantei a taciturnidade adquirida ao longo da vida.
Esqueci-me de sua face, da indelicadeza de seus gestos;
Pude perceber sua falsa abstinência calcada no puritanismo.
Doe-me pensar que um dia entreguei-me às suas manobras.
Mirabolantes atitudes onde o sarcasmo era ofensa oficial.
Curei-me e desprendi-me de suas garras possessivas.
Hoje, a felicidade vem beijar-me a cada manhã que desabrocha.
Pressinto o sopro da liberdade fixar-se em meu olhar expressivo.
Adeus, Solidão; até outro dia, até outro livro que sirva de alívio
Para aplacar uma possível dor que venha a ser adquirida.
Se, algum dia, tentada pela saudade, voltar a flechar meu coração;
Verás que em mim, repousa o encanto da verdadeira paz.
Em meu antigo coração entristecido, renasceu o contentamento.
E assim a vida continua: amarga, todavia; saboreável...!


São Paulo, madrugada gelada de um mês qualquer.


Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 23/08/2005
Alterado em 23/08/2005
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